Os gatos, que foram divinizados no Egito Antigo, sofreram um processo inverso de demonização na Europa da era medieval, porque eram vistos na companhia de mulheres acusadas de bruxaria. Se a primeira atitude honra a sabedoria dos egípcios, que sabiam reconhecer a nobreza natural desses belos animais, a perseguição fanática aos gatos na Idade Média acarretou uma redução de sua população, que está entre os fatores que contribuiram para espalhar a peste negra, doença transmitida pela pulga do rato.
Os egípcios, que mumificavam seus animais sagrados quando eles morriam, com o mesmo respeito dedicado aos faraós falecidos, acreditavam que homens e animais tinham uma alma e um kha, um duplo, que os esotéricos chamariam de corpo astral ou duplo etéreo, ambos sobreviventes à morte do corpo físico, de modo que era bastante avançada no Egito a especulação quanto a uma vida futura, após a morte, em uma época que outros povos nem sonhavam com isso. Se o faraó Ikhnaton fosse bem sucedido na sua revolução, os egípcios chegariam a uma noção mais elevada de um Deus único, setecentos anos antes do terrível Jeová imaginado por Isaías. Ele fracassou porque tentou impor o monoteísmo à força. Mesmo permanecendo politeístas, os indianos alcançaram pleno sucesso na concepção do Deus Brahmam como Puro Espírito, transcendente e imanente aos outros Deuses e ao Universo.
As mulheres queimadas nas fogueiras não adoravam o diabo. O cristianismo vitorioso nas cidades não havia chegado ao campo. Essas simples aldeãs eram pagãs, seguiam as antigas religiões que cultuavam a natureza e, como tal, lhes agradava a companhia dos gatos. O uso de animais para simbolizar o mal era uma condenação da animalização. Espiritualizando-nos, salvamos conosco os animais. É o mínimo que devemos a tão maravilhosos companheiros.
Por: Marco Antonio Vianna
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