Em uma interpretação precipitada, ao tomar conhecimento que os gatos eram cultuados como deuses no Egito Antigo, o jovem estudante com certeza imagina que essa devoção se devia à habilidade felina de caçar ratos, portanto à sua utilidade para o homem. Mas não era nada disso. O julgamento dos animais por um critério utilitarista, o que nos leva a amá-los ou odiá-los de acordo com sua utilidade ou nocividade, é uma herança do dualismo persa, que impregnou as religiões monoteístas.
Um deus bom e um deus mau, no zoroastrismo chamados de Ormuz e Arimã, modelos de um deus e um diabo em eterna luta até o juízo final, tinham seus representantes no Reino Animal, segundo Zaratustra. Auxiliar do homem no pastoreio do gado, o cão afugentava os demônios com seu olhar e era imprescindível nos funerais, pois seu olhar purificava os cadáveres, disse Zaratustra. Ao mesmo tempo o profeta pregava que os lobos fossem mortos. Vemos aí em germe o nosso futuro de destruição da natureza e extinção de espécies.
O prazer que sentimos ao comtemplar os animais em liberdade na natureza é a verdadeira razão de se tornarem os primeiros deuses nas mitologias de todos os povos. O estúpido antropomorfismo das concepções monoteístas claramente prejudicou a compreensão que estava ao alcance dos politeístas, que um mesmo princípio atua nos seres vivos, que não é um homem superdimensionado, é uma essência sem forma, presente em todo o universo.
Há uma pequena distância entre adorar o gato como um deus e adorar a Deus que se manifesta no gato, e assim os egípcios o percebiam. Admirador da serena altivez dos gatos, Paulo Francis declarou uma certa vez: "O gato é metido porque sabe que é bonito".
Por: Marco Antonio Vianna
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