terça-feira, 26 de junho de 2012

O filósofo e seu cão


O filósofo alemão Arthur Schopenhauer (1788-1860) era conhecido pela sua terna amizade com seu poodle Atma (alma em sânscrito). Vivia solitário em Frankfurt apenas na companhia do seu cão, sendo visto passeando com ele pela cidade, a ponto das pessoas chamarem o Atma de jovem Schopenhauer e a imagem dos dois, lado a lado, ser a predileta para ilustrar textos nos jornais que falassem da sua filosofia.

As suas ideias se constituíram no último grande sistema filosófico, que incluía não apenas a metodologia científica, como a insípida filosofia atual, mas também a metafísica, a estética e a moral. Todos os assuntos lhe interessavam, filósofo abrangente que era, e foi por isso que se tornou um caso raro de um pensador humanista que encampa em suas preocupações a compaixão pelos animais e a defesa de seus direitos.

Schopenhauer criticava o preconceito comum nos países ocidentais que leva os homens a não considerarem que tem deveres morais para com os animais, que a crueldade dirigida contra os animais não tem importância moral, o que se reflete na legislação que pune tais atos com pequenas multas, como as que são reservadas aos donos à propriedade. Para Schopenhauer, o desprezo pelos animais tem origem na máxima do Antigo Testamento que diz que eles foram criados por Deus para nos servirem.

O estilo muito vivo do filósofo é a razão de ainda ser lido com interesse. Diz Schopenhauer: "O cão, o único amigo do homem, tem um privilégio sobre todos os outros animais, um traço que o caracteriza, é esse movimento de cauda tão benévolo, tão expressivo e tão profundamente honesto".


                                                  Por: Marco Antonio Vianna

domingo, 17 de junho de 2012

Cachorros difíceis valem mais a pena?

O jornalista americano John Grogan está há dezoito semanas na lista de mais vendidos de VEJA com Marley & Eu. Com 140.000 exemplares vendidos no Brasil, o livro é uma bem-humorada crônica da convivência de Grogan com um cão labrador. Nesta entrevista, ele explica por que a ligação com os cães é tão especial. (Matéria publicada em 2007)


O QUE HÁ DE TÃO INTERESSANTE NO SEU CACHORRO QUE EXPLIQUE O SUCESSO DO LIVRO? Marley & Eu não é apenas sobre um cachorro. É a história da relação desse cachorro com uma família. O livro mostra como um cão mudou a vida de um jovem casal e, mais tarde, dos seus filhos pequenos. Os leitores se identificam com isso. Recebo cartas e e-mails do mundo todo, inclusive do Brasil. São pessoas que viveram histórias muito parecidas com aquela que eu relato. Isso talvez explique o sucesso. O livro fala de uma experiência que muitas pessoas já tiveram: ter um cachorro que tocou sua vida.

QUE ESPÉCIE DE LIGAÇÃO EXISTE ENTRE AS PESSOAS E OS CÃES? É uma relação muito básica. Não há complicações, discussões, melindres. É uma ligação pura, que vem do coração. Um apego emocional.

MARLEY DESTRUÍA MÓVEIS, OBJETOS DA CASA. QUANTO CUSTOU TER UM CACHORRO TÃO BAGUNCEIRO? Não cheguei a fazer a conta na ponta do lápis. Mas, como estimativa geral, Marley deve ter custado algo na casa de 3 000 a 4 000 dólares por ano, contando comida, gastos com veterinário e medicamentos, além da destruição que ele provocava. Muitas das coisas que ele destruía eu mesmo consertava. Ele gostava de cavoucar as paredes, o que apurou as minhas habilidades de pedreiro amador. Esses remendos não custavam muito dinheiro, mas consumiam tempo. Ele também estragou itens mais caros, como um sofá e um colchão novo, que ele furou de lado a lado. Agora que o livro se tornou um best-seller, Marley pagou todas as suas dívidas. O prejuízo foi recuperado, e com juros.

IMAGINE QUE VOCÊ NÃO HOUVESSE ESCRITO O LIVRO. VALERIA A PENA TER TIDO O CÃO MESMO ASSIM? Sem dúvida. Marley viveu treze anos conosco. Quando o segundo de nossos três filhos nasceu, estivemos muito perto de abandonar o cachorro. Tínhamos dois bebês pequenos em casa, e Marley continuava destruindo coisas. Dava muito trabalho. Mas não desistimos dele, felizmente. Antes mesmo da sua morte, nos últimos dias de Marley, minha mulher e eu já rememorávamos os treze anos do cachorro com nostalgia. Sabíamos que Marley havia sido uma das melhores experiências de nossa vida.

VOCÊ TEM OUTRO LABRADOR AGORA. QUE TAL O NOVO CACHORRO? É uma fêmea. Eu a chamo de Gracie, a anti-Marley.

POR QUÊ? Gracie é o exato oposto de Marley. Ela é tranqüila, preguiçosa. Quase não faz nada de errado. Eu digo para ela: "Gracie, eu nunca vou escrever um livro sobre você. Você é muito tediosa".

E UM CACHORRO TEDIOSO PERMITE UMA RELAÇÃO TÃO PRÓXIMA QUANTO AQUELA QUE O SENHOR TEVE COM MARLEY? Eu tenho uma teoria: é com os cachorros difíceis que temos uma ligação mais profunda. Somos obrigados a investir tanto de nós mesmos para fazer essa relação funcionar que se torna impossível não ter sentimentos muito intensos por esses animais. Com os cachorros tranqüilos, o investimento pessoal é bem mais leve – nós apenas coexistimos com eles. Eu amo Gracie do fundo do coração, mas Marley era um animal de estimação memorável. Foi o cachorro da minha vida.

O SENHOR ACREDITA QUE UM LIVRO COMO MARLEY & EU PODERIA SER ESCRITO SOBRE UM GATO? Eu diria que não. Não tenho gatos, embora goste deles. De amigos que têm gatos, eu observo que o investimento pessoal que eles exigem é bem menor.

O SENHOR E SUA MULHER, JENNY, COMPRARAM O LABRADOR MARLEY COM A IDÉIA DE QUE CUIDAR DE UM CÃO PODERIA SER UM BOM ENSAIO PARA QUEM DESEJA TER FILHOS. O SENHOR RECOMENDARIA UM CÃO PARA O CASAL COM PLANOS DE AUMENTAR A FAMÍLIA? Com Marley, Jenny e eu tivemos de tomar conta de uma criatura pela primeira vez na nossa vida de casal. Ele dependia de nós para tudo. Isso nos ajudou a desenvolver um senso de responsabilidade importante para quem deseja ter filhos. Mas não recomendo que alguém compre um cão só para treinar seus dons paternais. O mais importante é gostar de cachorros.

QUAL FOI A IMPORTÂNCIA DE MARLEY PARA SEUS TRÊS FILHOS? O melhor presente que um pai pode dar a um filho – afora uma boa educação, é óbvio – é um animal de estimação. O animal ensina lições muito importantes. Ajuda a desenvolver empatia, compaixão e bondade por outros seres. E, quando o animal envelhece, a criança tem a oportunidade de entender a morte num contexto relativamente seguro, sem traumas. O último presente de Marley a nossa família foi este: ele tornou mais clara, para meus filhos, a concepção da morte, a idéia de que a vida é finita. É muito mais fácil para uma criança aprender isso com um cão do que com a morte dos pais ou dos avós. Meu pai morreu cerca de um ano depois de Marley. Meus filhos conseguiram entender melhor a morte do avô graças ao cachorro.

NO LIVRO, O SENHOR DÁ ALGUNS CONSELHOS SOBRE COMO ESCOLHER UM BOM FILHOTE DE CACHORRO – COISAS QUE NÃO SABIA QUANDO COMPROU MARLEY. O SENHOR SEGUIU ESSES PASSOS PARA COMPRAR GRACIE? Sim. Uma das coisas mais importantes ao comprar um cachorro é buscar uma raça que seja compatível com o seu estilo de vida. Diferentes raças têm diferentes personalidades. Também é importante comprar o cão de um criador de qualidade, em quem você confie. Evite os criadores irresponsáveis, que tiram uma ninhada depois da outra para conseguir o máximo de dinheiro possível. E o ideal é encontrar um criador que mantenha os dois pais em sua casa. Se você conhecer o pai e a mãe do seu cãozinho, terá uma boa indicação da personalidade que ele terá. Fizemos isso com Gracie. Funcionou: ela é uma cachorra bem-comportada.

QUAL SERIA A PERSONALIDADE DE UM DONO DE LABRADOR? Se você quer um labrador ou algum cachorro de grande porte, é necessário ter espaço para ele. E é preciso assumir o compromisso de exercitá-lo todos os dias. Se você faz o tipo sedentário, que passa o dia em casa vendo TV, o labrador não é o cachorro certo. Também não é um cachorro para quem trabalha muito e fica fora de casa doze horas por dia. Quando são deixados sozinhos, os labradores muitas vezes desenvolvem problemas de personalidade e se tornam muito destrutivos. Trata-se de animais sociais, que adoram a companhia humana – e por isso são a raça mais popular nos Estados Unidos hoje. Você precisa encontrar a raça que caiba no seu estilo de vida.

ALGUNS DONOS NÃO LEVAM SUA PAIXÃO POR CÃES AO EXTREMO, COM CABELEIREIROS, PERFUMES, ROUPAS? Sim. Eu vejo gente até furando a orelha de seus cães para colocar brincos caros. Em certo sentido, o cachorro pode ser um hobby. Mas é imoral gastar fortunas com um cachorro quando há crianças passando fome. E os cães não exigem nada disso. Eles precisam de comida, de atendimento veterinário regular e de donos que os tratem bem. Algumas pessoas tratam seus cachorros como crianças com pêlos. Podemos amá-los muito, como eu faço, mas eles não são crianças. São animais, e devem ser tratados de acordo.

Bulldog

Origem
Originário da Grã-Bretanha, o bulldog é um cão robusto que apresenta várias linhas genéticas: o bulldog inglês, o bulldog francês – também chamado de bouledogue – o bulldog espanhol – o maior de todos - e o bulldog campeiro. Detalhe: o espanhol e o campeiro, brasileiro, ainda não são considerados oficialmente como raças.


Aparência
O bulldog é musculoso, cabeça grande e arredondada, focinho curto e achatado, pescoço arqueado, maxilares proeminentes, boca larga, lábio pendentes, orelhas pequenas e pelo curto. Você pode até achar que estamos descrevendo um monstrinho, mas não é nada disso. Apesar de ser mal encarado, o bulldog é um cão calmíssimo, nem um pouco agressivo, adora crianças, colo e é muito preguiçoso. Um doce de cão com cara de bravo.


Saúde
Como seu focinho é curto, não se deve forçar o bulldog a fazer muito exercício especialmente no calor, pois ele poderá ter problemas respiratórios. Não gosta de calor e adora deitar sobre pisos frios para descansar e se refrescar. Muita sombra e água fresca também são bem-vindas e muito cuidado com as dobras do focinho, que devem estar sempre limpas para evitar dermatites e surgimento de fungos.


Curiosidades
O bulldog não deixa por menos quando o assunto é nobreza. A raça conquistou a admiração de personagens históricos importantes, como a rainha Elizabeth I e o rei James I, da Inglaterra. Como se não bastasse, um dos maiores e mais famosos dramaturgos da história, William Shakespeare, citou o bulldog no texto da peça “Henrique VI”.


Vai pro trono ou não vai? ;)

Boxer

Origem
O boxer é um cão de porte médio, pelo curto e porte atlético. As primeiras aparições da raça publicamente foram em 1895 através do Clube Alemão do São Bernardo. Em janeiro de 1896, em Munique, seria fundado o primeiro clube alemão da raça. É uma mistura de pelo menos 5 raças: bullenbeisser, baerenbaisser, brabanter, dantziger e bulldog. Um mix nada modesto, como se pode ver.



Aparência
Atlético e robusto, o boxer tem musculatura seca e desenvolvida. A pelagem é curta, dourada ou tigrada, e sua movimentação é poderosa e enérgica. A altura vai de 56 a 63 cm para os machos, pesando entre 29 e 45kg, sendo as fêmeas um pouco menores. Leva-se muito em conta suas proporções, entre elas o tronco quadrado, profundidade do peito, que alcança abaixo dos cotovelos e focinho bem desenvolvido e bem equilibrado nas três dimensões. Nos Estado Unidos o corte das orelhas é muito popular e a cauda é cortada nos primeiros dias de vida do filhote. Mas em seu país de origem, a Alemanha, essas amputações foram proibidas, medida que o Brasil felizmente acompanhou.


Saúde
Displasia coxo-femural, tumores e cardiomiopatia são alguns de seus possíveis problemas de saúde. Porém, a incidência dessas doenças é muito baixa. É só adquirir o seu boxer de fontes seguras, com certificado de saúde e pronto. Você terá seu cão saudável e forte por um bom tempo.


Curiosidades
O boxer foi uma das primeiras raças a serem utilizadas como cães da polícia alemã. A raça também se saiu muito bem como guia para cegos. Os primeiros exemplares eram de pelagem branca, numa época em que o conceito de funcionalidade superava outros atores. A permissão do branco tinha a intenção de não afastar da criação exemplares que pudessem fornecer características interessantes na formação da raça.

Bichon Frisé

Origem
Muitas vezes confundidos com os poodles, os bichons frisée são cães de porte pequeno e muito populares como bichinhos de estimação. A origem da raça é controversa, mas existem ocorrências no antigo Egito e na Fenícia, 1.400 anos a.C. A raça foi se aperfeiçoando na França e na Bélgica. Doces, sensíveis e eternamente “crianças”, mesmo velhos, ainda brincam, correm, xeretam e adoram a companhia das pessoas, principalmente crianças. Inteligentes e muito simpáticos, são muito usados em terapias humanas que envolvem convívio com animais. Mas não se engane: seu aspecto delicado e frágil é apenas aparência, pois são muito levados e não podem ser mimados, senão...


Aparência
Os filhotes apresentam manchas rosadas em algumas partes do corpo, com pelo tosqueado. Essas manchas podem desaparecer ou não, de acordo com a genética do exemplar.
O bichon frisé adulto é peludinho e normalmente branco. Ao longo dos séculos, os cruzamentos entre maltês e poodle deram ao bichon frisé sua aparência muitas vezes confundida com o poodle. É um bichinho de pelúcia vivo, mas como dissemos acima, não se deixe levar pelo jeitinho frágil dele. Se muito mimado, pode dar dor de cabeça.


Saúde
Os principais problemas de saúde do bichon frisé são as dermatites alérgicas, pela pele muito sensível. Cálculos renais também podem ser um grande problema na saúde do bichinho. Portanto, olho na alimentação para que não apresente grandes concentrações de proteínas e magnésio. As otites também podem atacar devido à conformação de suas orelhas. Mas, os veterinários estão aí para isso mesmo: para serem consultados sempre que preciso.

Curiosidade
Por volta do século XV houve uma disseminação dessas cães na Europa, sendo os preferidos das famílias reais. Henrique III era um fã e os gastos com eles eram tantos que chegaram a causar polêmica na corte. A partir de Napoleão III os bichons caíram no gosto das famílias “comuns”, mas com a Primeira Guerra Mundial sua criação foi muito afetada chegando a beirar o risco de extinção.